Não sei exatamente quando foi que aconteceu.. talvez tenha sido pela manhã, acordar e começar a achar os erros, igual em um jogo. Ou então, meus olhos gradativamente tenham se aberto, junto com a mente e os braços. Só sei que de alguma forma eu comecei a perceber o espaço que existia a minha volta, mas que eu verdadeiramente nunca tinha visto.
Frações de céu, sorrisos falsos..
De repente, eu vi aqueles que deveríamos estar dividindo o espaço - esse espaço que exploramos sem sapiencia, em jaulas, pratos, caixas. Ensacados, reduzidos em sua importância, transformados em produtos, limitados a servir o homem, como se o mesmo fosse dono de tudo - não é!
Depois, me vi sozinha, cercada por esse coletivo individual que chamam de sociedade. Sozinha.
Um a um os ciclos foram se fechando. Agora era só eu e a minha consciência - deslumbrada com a descoberta do que já se conhecia (ou quase isso). O fundo do que era raso.
O começo do encaixe das peças desse quebra-cabeças de incalculáveis pedaços.
Agora faltava o céu, engolido pelos prédios. O cheiro de chuva na terra, substituído pelo cheiro de asfalto molhado. O silêncio que os carros não respeitavam. Faltava o canto do passarinho fora da gaiola, o barulho de uma queda d'água, som de onda batendo na pedra, pé pisando em areia, sombra de árvore, oxigênio.
Esse espaço deixou de ser meu - mesmo nunca tendo sido, percebi. E antes de começar a me perguntar onde então estaria a felicidade, percebi também a fé. Não como uma válvula de escape, mas a solução para a aflição do não-pertencer.
Deus, com seu milagre da natureza e a sorte de poder contemplá-la, o caminho lindo dos encontros naturais e tudo que se faz novo durante o decorrer do dia, todos os dias.