quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Relato

BOOM! O exame deu positivo, contei ao pai que estava grávida e ele deu o sorriso mais largo que eu havia visto até então. Começamos ali a nossa jornada, nós 3.

O primeiro passo foi fazer um plano de saúde, já que eu ainda não tinha. Logo descobri que havia carência de 11 meses para parto e isso foi o inicio de longas pesquisas que eu faria até o fim da gravidez. Descobri então um novo mundo e todas as dualidades da escolha do parto. Não precisei ler muitos artigos para decidir que teria meu filho de forma natural.

Não tínhamos um obstetra e fui indicada a procurar uma médica, o pré natal tinha que começar e logo marquei uma consulta. Na primeira vez contei a ela sobre minha escolha, foi então que ouvi que o parto deveria acontecer até o dia 23/12, antes de suas férias. Fiquei assustada com aquilo e sabia que precisava encontrar outro médico.

Foi em uma ótica que os caminhos lindos da minha gestação começarão a ser traçados. O gerente, que em meio as minhas reclamações sobre a demora da entrega dos meus óculos, me indicou que procurasse grupos de gestantes. Bastou uma reunião e lá estava o contato do médico mais maravilhoso do mundo, mal sabia eu...

Primeira consulta, fui logo perguntando sobre as condições para o parto natural e a resposta não poderia ser mais encorajadora; Que eu só precisava querer e o Benjamin querer também, além de estar em um lugar que acolhesse minha decisão. Então era eu, cheia de coragem e informação, uma gravidez tranquila e um bebê com a cabeça para baixo desde os 4 meses, agora só faltava a maternidade.

Sabendo dos índices alarmantes de cesárias em hospitais particulares, além do meu plano não cobrir o parto e o alto custo, descobri que o SUS do RJ, tem um projeto incentivando a naturalização do parto e aqui em Nitéroi havia uma maternidade HUMANIZADA, não poderia ser melhor.

Porta aberta, era só chegar lá quando achasse que era a hora. Não havia ninguém melhor pra estar ao meu lado nesse momento do que o meu marido, preparado e bem informado, me acompanhou em todas as consultas e exames e estava conectado á gente como nenhuma Doula jamais estaria. Fiz o pré-natal paralelamente pelo plano e a gravidez seguia tranquila. Yoga e boa alimentação me fizeram chegar ao final da gravidez com apenas 6kg a mais. Dormia bem e estava bem disposta, me sentia conectada a ele e procurei não idealizar o parto, confiei na natureza e deixei rolar.

Malas prontas, 38 semanas e muita ansiedade. Já havia tido algumas contrações e tinha a sensação de que ele estava chegando. Depois vieram dias em que não sentia nenhuma contração e logo percebi que ainda não era a hora. Até que com 39 semanas, sexta feira a noite, depois de dois dias com a sensação de alguma coisa estranha estava acontecendo com meu corpo - dores na lombar, dificuldade pra dormir e cólicas, comecei a ter contrações seguidas e desregulares.

A intensidade da dor foi de 2 a 10 em minutos, logo estava gritando no quarto, mas as contrações não tinha ritimo e minha bolsa não havia estourado. Resolvi tomar um banho e tive uma contração dolorosíssima no banheiro. Quando sai meu marido já estava com nossas coisas na mão, alguma coisa estava acontecendo.

Quando entramos no taxi e Pedro disse ao motorista que era pra ir para a maternidade, ele enlouqueceu, como se sempre tivesse esperando por esse momento. Uma mulher em trabalho de parto no seu carro. Andou pela cidade como naqueles filmes Velozes e Furiosos, passando pelos sinais e fazendo curvas assustadoras, enquanto eu gritava no banco de trás.

Lá estávamos nós, 2:30 da manhã, triagem, 8 de dilatação, mal podia acreditar. Aquele momento havia chegado e eu estava quase pronta. Contrações sem ritimo, nenhum inchaço, barriga alta, bolsa que não rompeu e nenhuma sujeirinha na calcinha. Eu era a exceção e estava lá, quase parindo.

Fomos para a suíte, tirei a roupa e coloquei a camisola. Ficamos lá sozinhos, eu, Pedro e Benjamin, que essa altura fazia tanta força pra sair, que eu já estava aos berros pedindo pela cesária. Uma enfermeira entrou no quarto, me ouviu gritar palavrões, pedidos de socorro e discursos sobre meu direito de não querer mais sentir dor e com toda paciência do mundo, me disse que eu estava pronta, que eu tinha que passar por isso e que A DOR era INEVITÁVEL, Mas o SOFRIMENTO era OPCIONAL. Me colocou debaixo do chuveiro quente e novamente estávamos sozinhos.

Entrei então na famigerada Partolândia. Fechei a porta do banheiro e nenhum som saia da minha boca mais. Fiquei lá por algum tempo, até que decidi voltar para o quarto, apaguei a luz e andava de um lado para o outro quando a contração vinha, percebi que a dor era insuportável quando parada.

Foi quando eu já estava exausta, apenas pouco mais de duas horas depois da minha entrada na maternidade, que a médica entrou no quarto e disse que a hora tinha chegado. Deitei na cama, pernas pra cima. Lá estava a cabecinha dele, Pedro havia visto e percebeu que estava acontecendo. Se pôs do meu lado e começou a gritar como se estivesse vendo um jogo do Mengão em uma final no Maraca.
"Eu to vendo a cabeça dele, não para, não para... Que mulher! Que Força!"

Eu fazia força, a cabeça dele aparecia, exausta, parava e ele voltava pra dentro. Até que com meu olhos fechados, conduzida pela voz de Pedro, fiz toda a força que jamais eu saberia que tinha e lá estava ele. Direto para os meus braços, eu não podia acreditar. Descobri que sou uma Deusa, percebi o portal do Divino que a Mulher é. Tinha dado e recebido a Luz, tinha nascido ali.

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